Os Esquecidos

Olhares distantes e desprovidos de esperança. Caminhantes sem destino, perdendo o passado e a esperança em um futuro. Pessoas duplamente esquecidas. Uma vez pela sociedade, com raríssimas exceções e infelizmente não tenho ultimamente me incluído nestas exceções. Outra vez esquecidos por eles mesmos, pois muitos já não se lembram mais da sua própria essência. Quem são? São os chamados moradores de rua, outros de mendigos, mendicantes ou pedintes. Quem sabe, conforme o olhar do observador, caso este observe, alguns sejam chamados de vagabundos, bêbados ou viciados.
Notamos suas expressões de angústia e desolação pelas ruas, pelos prédios abandonados e esquinas. Nas praças das cidades cheias de gente e vazias de emoção. Notamos uma provável tristeza ou sintomas de um quadro avançado de depressão. Outros nos surpreendem com uma força, uma vitalidade e uma aparente alegria fugaz.
São histórias desconhecidas por todos, ou quase todos. São filhos abandonados. Pais ou mães desprezados. Viciosos cujos familiares desistiram de lhes salvar, ou não puderam salvar. Quem sabe deixaram para um dia que nunca parece chegar. Muitos tiveram suas famílias ou seus empregos, mas as famílias se diluíram em um oceano de problemas insolúveis, e seus empregos se perderam no tempo. Alguns até trabalham de forma digna em subempregos que não são dignificantes.
Passamos por eles, e se prestarmos a devida atenção, quem sabe possamos imaginar suas dores ou seus dramas. Em alguns casos estendemos as mãos com algumas moedas, ou quem sabe algum alimento para o corpo físico, no intuito inócuo de fazer o bem, e mais ainda para aliviar um pouco nosso próprio sentimento de culpa, oculto e desconhecido. Muito raramente paramos para ver nos seus olhos, perguntar-lhes os nomes, de onde vieram e sem possuem familiares. Como chegaram a tal ponto de degradação humana? Seria extremamente constrangedor perguntar-lhes para onde pretendem ir, pois certamente não o sabem.
A grande massa desses maiores abandonados ultrapassou os máximos limites da miserabilidade. Eles simplesmente desistiram de viver e andam por aí carregando ou arrastando suas vidas, esperando um final, um triste final. Alguns invadiram o terreno instável, obscuro e doloroso da insanidade e da loucura, perdendo-se em devaneios, sendo vistos como loucos ou doentes sem tratamento. Não raras vezes são vistos como bêbados, vagabundos ou sentenciados em um processo sem defesa. Poucos terão as bênçãos de serem iluminados ou salvos por mãos piedosas e corações bondosos.
Esta imagem me fez refletir sobre estes esquecidos. Em alguns países eles até recebem algum auxílio governamental através de programas sociais, fornecimento de alimentos e roupas, tratamento médico, albergues que sempre estão lotados. Em outros vivem no completo abandono. Mais que as feridas físicas, são as doenças da alma que precisavam ser curadas.
Não devemos naturalmente deixar de mencionar o trabalho abnegado e voluntariado de ONGs, grupos ou pessoas, entidades assistenciais ou religiosas que tentam fazer algo. No entanto a cruel realidade continua a fervilhar sob nossos olhos. Ora julgamos de forma preconceituosa ou quem sabe munidos de pena, culpa e misericórdia. Ora tomamos iniciativas isoladas sem o acompanhamento de uma política realmente saneadora? Ou pior ainda: não notamos ou lhes esquecemos?
O cataclisma humano se agrava quando à esta população de seres humanos, somam-se crianças e adolescentes. Viciando-se pelas esquinas e seguindo os mesmos passos de seus chamados “pais”.
Não basta mais o indignar-se ou o sensibilizar-se. Como ajudar essas pessoas antes que terminem seus dias como indigentes?
De qualquer forma o intuito não era aqui, neste momento, indicar ou apontar soluções. No máximo levantar discussões e reflexões. Abrir os olhos para este fato que insiste em saltar aos nossos olhos e nos chocar no dia-a-dia. Existe mas parece não tocar, preocupa, mas parece não fomentar a busca por soluções efetivas. Ou seria um caso sem solução? De qualquer forma não podemos deixar cair no esquecimento estes que são duplamente esquecidos.

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